quarta-feira, 17 de julho de 2019

Análise: Toy Story 4





Olha só! Uma postagem sobre uma produção saída a pouco tempo dos cinemas. Apenas se passou mais de um mês já.

Um padrão bem acima da média se observar que sou eu que estamos falando.

Não pretendo jogar conversa fora dessa vez, vou falar logo sobre Toy Story 4! O quarto filme de uma das minhas franquias favoritas de animação.

Obs: Vai ter spoilers!





Woody e sua jornada para aprender a real razão de um brinquedo existir. Pela quarta vez.



Toy Story 4 como seus antecessores foca bastante na jornada de Woody para aprender qual deve ser a medida que ele deve tomar quando algum problema surge. Os problemas do Woody começam quando ele começa a ser deixado de lado pela garota Bonnie, a menina de Toy Story 3 apresentada como a nova dona do grupinho de brinquedos. 

Woody percebe os problemas que vem enfrentando e tenta ajudar a garota sempre que pode para se manter relevante, até que em um dado momento surge o novo personagem bastante vendido pelos produtores, o garfinho. 

Garfinho é um personagem que acredita verdadeiramente não passar de nada além de lixo por causa de ter sido criado com partes vindas do mesmo, e sua intenção pelo menos no inicio do filme vai ser apenas se jogar na lata de lixo mais próxima. Entretanto, ele também se tornou o brinquedo favorito da Bonnie, e é aí que o Woody entra na história.

Woody decide que se ele não pode ser um brinquedo que irá trazer lembranças felizes para a Bonnie, ele pelo menos poderá estar lá para fazer o Garfinho cumprir esse papel. 

Isso resume todo o inicio do filme, mas ele realmente começa quando a família da Bonnie decide fazer uma viagem antes da garota iniciar sua vida na pré-escola. No meio dessa viagem, Woody e Garfinho acabam caindo para fora do trailer, e na tentativa de voltarem para ele, os dois encontram um antiquário, que Woody acredita achar que uma amiga de longa data estava.

Como não era difícil de perceber, as coisas acabam se complicando. Uma boneca criada aproximadamente na mesma época do Woody chamada, Gabby Gabby, demonstra um desejo perigoso pela caixa de voz de nosso grande protagonista cowboy. 

Woody escapa, mas Garfinho não tem a mesma sorte. 

Não muito tempo depois disso, Woody encontra Betty, a sua amiga de longa data, e pede sua ajuda para salvar seu novo amigo, ela reluta inicialmente, mas no final aceita. Enquanto isso, o resto do pessoal tenta fazer de tudo para manter Bonnie e sua família naquele local até o retorno de seus amigos, ao mesmo tempo que o não tão patrulheiro espacial, Buzz Lightyear, vai a busca de Woody e Garfinho.

Essa é a sinopse do filme, e sendo honesto, não é uma das melhores.

O Woddy sumiu novamente? Sério Pixar? Isso já ocorreu em Toy Story 2, colocar um parceiro com ele não muda as coisas tanto assim.

Parem de colocar o Woody para sempre ter uma crise pessoal sobre como um brinquedo deve agir. Toy Story 3 pelo menos tinha um ponto diferente, a crise do Woody em Toy Story 4 é a mesma de Toy Story 1, que é a da criança o estar deixando de lado para brincar com outro(s) brinquedo(s), só mudando a lição de moral que é completamente oposta. 

Toy Story 1: A criança não brinca com você? Continue firme. O seu papel como brinquedo é estar lá para o que der e vier. Por isso o "Amigo estou aqui!"

Toy Story 4: A criança não brinca com você? Abandone ela. Se não estiver satisfeito, apenas vá embora, brinquedos não se resumem a apenas brincar com uma criança.

Isso é um spoiler (eu disse que teria), mas o Woody abandona a Bonnie para ficar com a Betty.

Eu nem sei por onde eu começo para explicar porque o desenvolvimento do Woody em Toy Story 4 não apenas contradiz tudo que o personagem sempre foi, mas como ele também contradiz o que a franquia representa.

Antes que alguém venha reclamar que eu defendo relacionamentos tóxicos, eu deixarei claro. Se você é legal e possui um amigo ruim, e não importa quanto tempo passe e quantas coisas aconteçam, ele continua sendo um imbecil que não te respeita, abandone ele. Se ela não te trata como amigo, essa relação entre vocês não pode nem ser chamada de amizade. 

Eu estou reclamando dessa mensagem de Toy Story 4 porque Toy Story foi sempre uma franquia que defendeu que a função dos brinquedos é de serem amigos aos quais as crianças sempre podem recorrer quando tem alguma dificuldade, o Woody nesse filme ignora isso completamente.

Pode se argumentar que ele tomou essa atitude mais por causa de querer ficar com Betty do que pela Bonnie deixar ele de lado, mas a narrativa do filme não condiz com isso. No filme inteiro a Betty fica enchendo o Woody sobre as maravilhas de ser um brinquedo sem criança, o filme quase não possui cenas de romance com os dois, eles possuem um clima bem ameno para um casal que não se vê a vários anos na verdade. O filme usa mais a Betty para fazer o Woody desistir de ter uma criança do que qualquer outra coisa, a função da personagem é essa basicamente.

Isso apenas falando da contradição em relação ao primeiro filme, Toy Story 4 também prejudica a narrativa do terceiro filme.

O final de Toy Story 3 da indicíos que Woody e seus amigos agora teriam altas aventuras com seus novos amigos e com sua nova criança. Toy Story 4 supostamente deveria ter aventuras apartir dessa premissa deixada por Toy Story 3, e o que o filme faz? Não leva 30 minutos para ter discussões para o Woody abandonar a Bonnie, e todos os seus novos amigos não devem ter nem 10 minutos de tela no filme inteiro, os brinquedos originais da Bonnie foram completamente deixado de lado nesse filme, Toy Story 3 deu mais destaque neles do que Toy Story 4 inteiro, a maioria da participação deles é para questões humorísticas apenas (pretendo falar do humor mais tarde). Eles nem ao menos tiveram participação na despedida do Woody, onde apenas os amigos de longa data da franquia tiveram participação. Eu provavelmente também não iria se despedir de alguém que eu conheci a alguns meses no máximo e já decidiu me abandonar.

Esse filme era para supostamente ser o momento para personagens como a Dolly, Espeto e Trixie terem suas chances de realmente brilhar em algo que não fossem curtas de 10-15 minutos que ninguém liga. Mas não! Porque Toy Story 4 é Toy Story 4.

E por falar nos amigos de longa data que estão na franquia desde Toy Story 1 e 2. Argh! Toy Story 4 joga eles para o canto de uma forma bem pouco vista por mim no mundo do entreterimento, personagens secundários de Dragon Ball recebem mais respeito. Tirando o momento da despedida, todos eles, até o Buzz, apareceram apenas para fins humorísticos, iguais aos brinquedos de longa data da Bonnie.

Outro elemento que me incomodou bastante é que um dos produtores disse que colocou a Betty como uma garota forte para ter uma representação feminina forte na fanquia, eu só consegui pensar que o cara se esqueceu da Jessie quando afirmou isso, principalmente pela participação minúscula dela no filme. A  Jessie, desde a sua estreia, sempre foi uma personagem com uma participação bem marcante nos filmes, ela sempre foi uma personagem que nunca aceitou desaforo algum. Se os produtores queriam uma garota que marcasse presença, eles só precisavam fazer como em Toy Story 2 e 3, não precisavam tornar a Betty numa personagem quase que inreconhecível para conseguir isso.

O Garfinho e a Gabby Gabby, como o Woody, eles também tem um desenvolvimento. O do Garfinho é entender o valor de ser um brinquedo amado por sua criança, e o da Gabby Gabby é entender que não existe uma criança ideal, tem várias crianças que precisam de um amigo no mundo.

É impressionante como qualquer um dos dois tem um desenvolvimento que se encaixa mais na proposta da série que a do Woody, na própria história de Toy Story 4 tem elementos para construir uma melhor. 

Mas em defesa de Toy Story 4, até que o desfecho é bem decente, o Woody termina o filme junto a Betty ajudando outros brinquedos a encontrar uma criança, a Gabby ajuda uma criança perdida a não se sentir tão sozinha, o Garfinho ensina a um novo brinquedo qual é a função dos brinquedos.

Se o filme tivesse focado mais nessa questão do Woody em abandonar os amigos para ajudar brinquedos perdidos ao invés de parecer que ele tá indo embora porque a Bonnie não brinca com ele tanto quanto era com o Andy, fazendo ele parecer até mais egoista do que ele era lá no primeiro filme, o filme seria bem melhor.

Sendo honesto, a história da aquela sensação que podia ter acabado tudo em 30 minutos apenas, era só o Woody entregar a caixa de voz para a Gabby Gabby logo, o filme nem demonstra qualquer consequência pelo Woody tê-la entregado. Ele já gostava da Betty desde que a reencontrou, ele já não demonstrava animo para continuar com a Bonnie, a maioria do desenvolvimento do Garfinho ocorre ainda no inicio do filme, a jornada dele e seus amigos para resgatar o Garfinho não tem nada de interessante e é lotada de encheção de línguiça ainda por cima.




Toy Story 4 possui seu próprio grupo de personagens novos, a Gabby Gabby, o Garfinho, a dupla Coelhinho e Patinho, o Duke Caboom, a Isa Risadinha e o Benson.

Os únicos ao qual eu me importo são o Garfinho e a Gabby Gabby.

O Coelinho e o Patinho são uma dupla de imbecis que só ficam jogando piadas sem sentido e forçadas sempre que podem; o Duke Caboom é aquele personagem genérico que Hollywood ama colocar nas animações, que faz drama pra qualquer coisa que ocorre o envolvendo, e não tem um pingo de graça; e a Isa Risadinha é tão irrelevante que eu precisei pesquisar na internet para saber o nome dela pela falta de relevância dela no filme, eu só consigo pensar naquele momento que ela joga conversa fora com a Betty falando sobre o Woody na primeira vez que ela aparece. 

Eu gosto das piadinhas chamando o Benson de assustador, então eu diria que ele é aceitável se for colocar padrões não muito altos.

No final das contas, dos sete personagens, quatro eu não dou a mínima, um é razoável, e dois prestam. Isso desconsiderando o fato deles terem tornado o Buzz em um demente sem qualquer relevância real na história, e terem tacado todos os outros personagens para escanteio.

Isso é uma bela duma porcaria. Como os personagens desse filme são tão ruins em geral? Eu só tenho uma resposta. O humor.

Se você gosta de personagens que estão lá apenas para prejudicar os personagens principais, que apenas ocupam espaço para fazer piadas longas que perderam a graça em menos de 5 segundos, e que vão fazer a história se arrastar por que são estúpidos demais até para seguir um comando simples, Toy Story 4 provavelmente vai ser bom para você.

Os produtores desse filme acreditaram que fazer todos os personagens se tornarem comediantes era o ideal, e por que não? É um flme infantil! Crianças são estúpidas e precisam de 10 minutos de piada após 1 minuto de personagens que não ajam feito retardados para não perderem o interesse no filme. 

Essa mentalidade atual em relação as crianças é estúpida até dizer chega. 

Elas conseguem gostar de assuntos mais maduros, elas podem não entender cada aspecto de uma situação e nem reconhecer uma boa piada direito, mas isso não significa que sejam dementes. Elas sabem quando problemas existem, elas sabem quando os pais estão tendo problemas, elas provavelmente sofrem algum tipo de injustiça que as angustiam e ninguém sabe, quem defende que criança é apenas estúpida, não merecia um pingo de atenção para parar de falar porcaria.

O humor de Toy Story 4 é lotado dessa mentalidade estúpida, toda, mais toda, piada do Coelhinho e do Patinho é retardada e desafia a capacidade humana de receber comédia de mal gosto. Toy Story 3 também tinha um humor ruim, é só lembrar do Buzz mexicano, mas não chegava a ser tão baixo quanto o de Toy Story 4 em certos momentos. O humor dese filme oscila excessivamente, as vezes surgem algumas piadas boas, mas em outros, é porcaria pura, Toy Story 3 pelo menos era consistente com o seu humor.

Mas isso ainda não é o pior, boa parte do público do filme são de pessoas que assistiram Toy Story 1, 2 e 3 na infância, e hoje são adolescentes ou adultas. Como uma pessoa que assistiu Toy Story 1 e 2 na infância, eu me senti ofendido pelos produtores desse filme, algo que Toy Story 3 não conseguiu. Ao invés de sentir que tudo que aconteceu aos longo da franquia ia ser respeitado e finalizado, o que eu recebi foi um filme que ficou apelando para nostalgia barata para me fazer amá-lo. 

Toy Story 4 é lotado com a trilha sonora dos três filmes anteriores, em todo o tempo do filme você vai ouvir uma música e dizer: Ei! Isso é de Toy Story [insira um número de 1 à 3]. Toy Story 3 não precisou apelar para música nostálgica para as pessoas o amarem, ele foi lá e criou suas próprias. Ainda tem momentos como aquele onde o Buzz tenta voar e bate na roda gigante, isso obviamente era para chamar a atenção dos fãs do primeiro filme, onde eles veriam o Buzz voar novamente e teriam suas expectativas quebradas. Essa cena foi tão meh.

Toy Story 2 fez algo parecido de uma forma tão melhor, o filme satiriza o Buzz do primeiro filme de uma forma tão inteligente. Como não lembrar daquela parte onde o Buzz desativa o capacete do Buzz falso e os amigos dele ficam com aquela cara do tipo: "O que isso deveria signifcar?" E o Buzz fica com uma cara de desaponto enorme e mostra o nome Andy em baixo da sola do pé, e só aí o resto do pessoal o reconhece como o verdadeiro Buzz. 

Qualquer pessoa que lembrasse da cena onde o Buzz faz o mesmo lá no primeiro filme, entenderia isso e daria umas boas risadas vendo como ele ainda sofre pelo seu passado. É uma cena tão mais discreta e simpática que a de Toy Story 4, ela que parece querer que todos entendessem que a cena da roda gigante se refere ao vôo do Buzz lá no primeiro filme.

Pior que isso, ele tenta ter a mesma vibe de despedida do seu antecessor, sem ter ao menos o peso do mesmo. Todo aquela emoção por ser o último filme da franquia sumiu junto com Toy Story 3, tentar fazer um filme dizendo: "Nós ame! Esse será o último filme da franquia", logo após ter tido um filme com a mesma proposta, foi uma atitude não muito planejada, para não dizer idiota. 

Se a Disney voltou atrás com a ideia de encerrar a franquia no terceiro flme, por que confiar que agora no quarto ela realmente vai terminar? Eu não ficaria surpreso com a notícia de um quinto filme, ainda mais com as altas vendas de Toy Story 4 nas bilheterias dos cinemas, e suas altas notas em vários sites por aí.

Esse é o principal motivo de eu não querer uma continuação de Toy Story 3. Mesmo que a continuação fosse boa, ela, caso tentasse dar um fim a franquia, perderia um bom peso por estar fazendo a mesma coisa que o filme anterior, exatamente como Toy Story 4 fez, e isso deu uma boa prejudicada no filme.




Toy Story 4 não é uma completa perda de tempo como pode estar parecendo com o que eu estou escrevendo. 

A Gabby Gabby é uma vilã decente com razões bem compreensíveis, a Pixar não seguiu aquela formúla estúpida dela de criar uma reviravolta no último momento revelando a óbvia identidade do vilão, eles foram mais espertos, revelaram o vilão logo, e depois foram humanizando. 

O Garfinho por incrível que pareça é um personagem bem mais decente do que um garfo com uma premissa estúpida tinha qualquer direito de ter, caramba, ele até termina o filme fazendo o trabalho do Woody, algo bem admirável.

O momento de despedida é bem bonito, não tanto quanto o do terceiro filme, mas ainda consegue cumprir bem o seu papel.

De vez em quando ocorre umas boas piadas também.

O visual é muito bem feito.

No entanto, eu não consigo dizer que o filme é bom, tem tanta ideia ruim ou mal implantada, que o filme se tornou uma porcaria bem aquém do que poderia.

O humor é inconsistente, e geralmente ele oscila mais para baixo do que o contrário.

Personagens irrelevantes e desinteressantes são a norma, nem os personagens de longa data escaparam disso.

A trama podia ter se resolvido com apenas metade do tempo original do filme sem a menor dificuldade.

Woody vai no sentido oposto ao que ele representa na franquia nesse filme.

Apelação barata para a nostalgia dos fãs saudosistas.

A proposta do filme de ser o encerramento da franquia é muito prejudicada pelo antecessor.

Por favor Disney, não faça um quinto filme, quatro filmes já ta de bom tamanho.


Nota Final: 3.2




3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Poxa vida. Você foi impecável na análise. Toy Story foi o primeiro filme que assisti em um cinema na minha vida, foi em 1996, e virei um grande fã da franquia. O 1 e o 2 são impecáveis. O 3 trás a tona uma situação prevista pelo Pete Fedido no 2, o Andy ia crescer, e será que levaria o Woody para faculdade? O 3 passou uma mensagem linda de união e amizade, e no final o Andy diz à Bonnie algo que nunca esqueci, de que o Woody nunca desiste de você. E foi exatamente o que ele fez no 4. A Bonnie não estava brincando muito com ele, então ele foi embora. E transformaram a Betty numa Yoko Ono no filme, fazendo o protagonista abandonar a todos para ficar com ela. Os demais personagens, os queridos brinquedos que aprendemos a amar desde os anos 90, foram reduzidos a figurantes, alguns com menos de meia dúzia de falas. Eu saí do cinema arrasado. Estragaram minha doce franquia. Tenho certeza de que haverá o 5, para meu desgosto, provavelmente com a premissa de que a Bonnie sentirá falta do Woody e os brinquedos irão atrás dele para trazê-lo de volta pra casa. Requentado a fórmula do 2. Enfim. Eu odiei o 4 e não consigo assisti-lo novamente...

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