terça-feira, 15 de agosto de 2023

Falando sobre alguns filmes de animação não muito conhecidos?

 
Após ficar meses sem escrever aqui e ignorar minha milionésima tentativa de tentar ser consistente com os artigos, volto apenas pra expressar o quanto eu não gosto quando postam "animação é cinema". Não porque eu discorde, já que uma penca dos meus filmes favoritos são animações, mas porque geralmente quem comenta esse tipo de coisa usa sempre os mesmos filmes da Disney, Dreamworks, e com sorte, do Studio Ghibli.

Não é que tais estúdios de animação não mereçam o reconhecimento que tem, ou que não tenham boas obras, mas tem mais que isso pessoal. Pelo menos coloca algo que foi feito a mais de 10 anos, seria legal!

Então,  pensei, porque não fazer uma lista falando de alguns dos filmes de animação que eu assisti? E bem... aqui estamos!

Talvez você saia daqui com interesse em ver algum deles.

Um aviso! Vai ter spoilers, mas ainda recomendaria dar uma olhada nessas obras pelo prazer da jornada.

Mad God


Mad God é um filme experimental com animação em stop motion, que como alguns talvez já saibam, é colocar bonecos e objetos de massa de modelar na frente da câmera, e ficar mexendo cada objeto levemente pra criar um único frame. Esse tipo de filme geralmente demora pra ser feito por esse motivo, mas Mad God conseguiu demorar muito mais que a média. Foram 30 anos pra ser produzido, eu não estava vivo quando essa coisa começou a ser produzida, e eu já tava na faculdade na época que finalmente lançou (2021). A única outra animação que conheço, e que tenha demorado tanto pra lançar quanto, foi The Thief and the Cobbler.

Considerando os números oficiais o filme até não custou tanto, 150 mil dólares, numa época com filmes na casa dos centenas de milhões.  Isso é muito baixo. Foi arrecado 600 mil dólares com teatro e venda de DVD's. Não sei quanto exatamente vai pro teatro, os gastos com marketing, e os custo de produzir todos os DVD's, mas já deu pra ver que se lucrou não foi muito pra um projeto de 30 anos. Não esperem a Disney ou DreamWorks fazendo um filme na mesma linha, porque financeiramente, esse filme não foi lá essas coisas.

Agora sobre o filme em si, eu absolutamente não entendi porra nenhuma enquanto assistia. Sério, eu só entendi que tudo era uma merda e aquele mundo era lugar horrível que qualquer um não gostaria de viver. Tive que ir buscar na internet alguma explicação razoável pra tentar entender o que raios estava acontecendo, e basicamente "Humanidade tá fazendo merda e Deus deu uma de Velho Testamento com doses cavalares de testosterona". Yeah... ficou mais palatável. Ainda tem toneladas de simbolismo no filme reverente principalmente a Bíblia que dificilmente qualquer um irá pegar que podem dar mais força a narrativa e uma possível mensagem, que é dependente quase que exclusivamente da linguagem visual, que no caso desse filme é bastante confusa, o que meio que é esperado de um filme "experimental".

Então, o que raios acontece nele? Um cara, denominado Assassin, tá numa jornada pra tentar consertar as coisas. Muitas cenas confusas retratando as piores coisas acontecendo ocorrem constantemente, e todo mundo é cuzão, inclusive o Assassin. Tudo pra no final um novo universo ser criado e todo o ciclo de dor e destruição se repetir. 

Não é o filme mais alegre ou feliz que você vai ver.

Minha parte favorita foi a direção de arte. Provavelmente a mais interessante que já vi num filme stop motion, os primeiros 5 minutos já meio que dá um indicativo do porque os 30 anos de produção. É nojento e grotesco, mas tem um esforço na atmosfera que faz você sentir que nada sendo apresentado tá lá apenas porque "coisas grotescas torna sua obra madura" como eu vejo em Jogos Mortais, por exemplo.

Dependendo de quem você é, pode enxergar Mad God como um daqueles filmes pretensioso que gente cult usa pra argumentar que são superiores, ou pra gente deprimida que quer confirmar sua visão que a vida é uma grande merda. São visões que da pra tirar desse filme. Pode até pegar uma mensagem otimista, sobre como deveríamos evitar esse possível mundo cruel tentando ser mais simpáticos com a dor alheia.

Eu prefiro tirar uma experiência interessante, que é a importância da sua existência. Mostrando que ainda tem pessoas tentando algo diferente e que tenha determinação de ir atrás dele. 

Felidae: O Gato Detetive


Uma das coisas que me surpreendeu quando fui ver Felidae foi descobrir que recebeu uma dublagem aqui no Brasil, que eu não assisti porque não sei onde achar essa maldita versão. Só sei que existe porque tem algumas cenas dubladas no YouTube e menção aos dubladores na Wikipédia. Fui assistir em inglês com legenda em português, e potencialmente foi pro melhor, já que deve ser mais fiel ao roteiro original, embora seja um filme alemão. Pois é, um filme de animação alemão, parando pra pensar, não lembro de ter consumido qualquer outra obra de animação do país. Acho que até da Suécia consumi mais conteúdo. 

Sobre Felidae em si, é o nome científico dado a família de felinos.

ANIMAÇÃO É CULTURA! 

Agora sobre a obra na imagem, como o pessoal aqui no Brasil que inseriu esse extra no título já deve ter dado uma boa dica, é sobre um gato fazendo trabalho de detetive.

Ele foi baseado num livro de 1989 (o filme é de 1994), e teve um bom número de sequências que nunca receberam uma versão pro cinema diferente do primeiro, e a maior coisa relacionada a obra é o criador ter entrado em várias polêmicas envolvendo opiniões políticas controversas, que meio que dificultaram consideravelmente o acesso aos livros e mataram bastante a chance do resto da série receber uma tradução para o inglês. Os dois primeiros livros foram os únicos a receber tradução, e sejamos francos, não tem muito gente fluente em alemão fora da Alemanha. Então se você tem expectativa de ler os livros, tu tá ferrado.

Ainda nos livros, é interessante como uma franquia que começa com investigações se torna algo mais voltado a aventura, porque, é! O criador decidiu que ia mudar o tom das coisas nos livros seguintes, e todo mundo que viu o filme e por sorte descobriu a existência dos livros, iriam pensar que todo o resto também é alguma trama de mistério com elementos como buscar por pistas e questionar testemunhas, mas o que você recebe é fusão de humano com gato. É fascinante.

A animação é um daqueles que acaba caindo naquele negócio do "isso com certeza não foi feito com crianças em mente" e muita gente não percebe pela estética não muito diferente das animações que o Don Bluth e a Disney faziam nos anos 80. Então você tá lá assistindo e PAU! Cena de sexo entre dois gatos com os dois até fazendo aquele maldito som específico que gato faz nessas ocasiões. 

Mas não foi por gatos transando que fui assistir Felidae, não! Foi a lendária cena que do protagonista, Francis, tendo um pesadelo com um amontoado de cadáveres de gatos mortos sendo usados como bonecos. Como fã de horror, a primeira coisa que pensei ao ver essa cena foi logo arranjar alguma forma de ver o filme. 

Tudo pra no final ver que o filme era algo bem típico de trama de detetive. Tem os gatos falantes, tem o Francis com uns sonhos malucos, tem alguns elementos de ficção cientifica aqui e ali, mas o filme é na maioria do tempo o Francis fazendo o bom e velho trabalho de detetive, enquanto o caso ferra um pouco com a cabeça do pobre rapaz. 

E... não é demérito nenhum, toda a trama envolvendo criar a "raça superior" dos gatos e o vilão basicamente ser um proto Hitler é bem interessante.
 

Mune: O Guardião da Lua


Mune é provavelmente a animação francesa mais normal que eu já assisti. Sério, você vê as animações francesas, e é coisa tipo, "gato que fala, busca ser judeu, enquanto acompanha um judeu em sua busca pela sua terra sagrada", e tu percebe que isso tá na média deles.

Mune é bem mais simples. O protagonista é um garoto franzino e tímido, mas com boas intenções. Tem o Sohone, um rival/amigo, que é alto e musculoso, porém arrogante e não pensa. E uma garota chamada Glim, que é esperta e busca aventuras, mas é muito chata.

O trio principal é o tipo de coisa que você vê em praticamente tudo por aí. A jornada deles também pode ser resumida a "salvar o mundo, enquanto tentam lidar com suas diferenças e superar seus defeitos". Honestamente, Mune num geral nem é tão interessante nesses aspectos.

Ele realmente brilha é no mundo criado pro filme. Tem uns dois guardiões responsáveis por proteger o Sol e a Lua, ao mesmo tempo que garantem que os dois sigam com suas devidas rotas. Você esperaria que seria parecido com como funciona em nosso planeta, mas não, o Sol cobre uma metade do planeta e a Lua outra. Isso reflete em cada metade do planeta tendo uma fauna e flora bem distintos um do outro. Inclusive, a Grim faz parte de um grupo de pessoas que vive entre os dois lados e que se ficar muito tempo no calor derrete e no frio congela, e isso é uma existência tão ferrada quando tu pensa bem.

Eu falo isso porque os visuais e a realidade criada pra esse filme são o grande fator pra você ter algum interesse em assistir essa obra, pois todo o resto é bem genérico ou esquecível num geral. Pode parecer pouco falando desse jeito, e parece mesmo, esse filme tem uma trama e personagens bem fracos e superficiais. Até que surgem algumas cenas como a do Mune visitando a zona dos sonhos ou os flashbacks, onde a animação é 2D e os animadores tão mais inspirados. As coisas começam a fluir tão bem que você recupera todo o ânimo pra ver Mune até o fim. Isso considerando que mesmo a animação 3D padrão do filme tem uma direção de arte linda. É um lance parecido com os jogos da Rockstar, quando tu perde um bons minutos fazendo nada de realmente interessante apenas pra tentar aproveitar todos os pequenos detalhes no mapa. Apenas ficando satisfeito em ver como tudo funciona e como foram projetados.

Então, meu ponto central pra tu assistir Mune é pelos visuais, que ainda são mais bonitos que muito filme animado nestes últimos 9 anos desde seu lançamento.

Esse filme merecia uma série, sem sacanagem, só pra explorar esse mundo interessante.

Gatos não Sabem Dançar


Gatos não Sabem Dançar foi lançado lá em 97, quando a Warner era uma empresa que não era conhecida por fazer filme e séries horríveis com personagens da DC. O filme não fez exatamente o sucesso esperado lá na época do lançamento e acabou recebendo o status de "filme cult", o que meio que explica porque ele tá aqui.

O filme faz um excelente trabalho referenciado o cinema e Hollywood dos anos 30/40 com vários pequenos detalhes sutis em todo canto. O musical é bem bonitinho, com músicas que fazem boas referências ao anos 30/40 com blues e jazz. 

Facilmente no meu Top 5 filmes animados mais bonitos da década de 90. A cena da arca é provavelmente o exemplo mais famoso, mas o resto do filme não fica muito atrás, a qualidade é consistentemente boa. Faz tanto sentido que quando fui tentar arranjar uma explicação pra um filme que se passa no final dos anos 30 ter vários cartazes de filmes dos anos 80 e 90 nos créditos. A razão que achei foi que gastaram todo dinheiro na animação e recorreram aos cartazes que tinham a disposição, e olha, faz sentido. 

Mas não deixe a capa e o último parágrafo te enganarem. Gatos não Sabem Dançar tem uma lição profunda.

A obra começa com um gato chamado Danny tentando buscar uma oportunidade em Hollywood como estrela de cinema, até que Danny percebe a grande verdade... Hollywood é uma merda.

Muita gente gosta de afirmar que a lição desse filme "Não! As minorias na Hollywood da primeira metade do século XX sofriam pra caralho e não tinham chance de brilhar. Os animais são uma óbvia referência as minorias e o jeito como os humanos os tratam é como os brancos eram na época". Essas pessoas não tão nem um pouco erradas, mas vou mais fundo e digo que se tem uma coisa que devia ser aprendida com esse filme é que Hollywood é uma merda. 

Gatos Não Sabem Dançar retrata potencialmente da forma mais inofensiva e boba como o mundo das grandes estrelas de cinema não é muito amistoso com pessoas esperançosas e otimistas sobre o futuro, e que provavelmente iram se fuder entrando num acordo bem merda e suportando abusos de pessoas que já estão lá a tempos. Isso quando esses personagens quase morrem filmando uma cena que acaba num desastre, envolvendo uma inundação que... olha só! Um desastre extremamente semelhante com um caso real. Nas filmagens do filme Arca de Noé de 1928, também ocorre uma inundação e 3 pessoas acabaram morrendo e outras ficaram feridas. É quase como se Hollywood... fosse uma merda.

Através da união com outros animais que também tão na mesma situação que o Danny, eles vão tentando juntos através da música, conseguir um lugar de destaque como os humanos, mas tem a vilã do filme, Darlan, que é uma criança psicopata... e olha só, mas referência a Hollywood. Na verdade a um rumor. A personagem dela é inspirada numa atriz mirim, chamada Shirley Temple, lá dos anos 30. O rumor era que Shirley era uma pessoa horrível, mas não existe nenhuma prova real que ela realmente era assim. Na verdade, tudo aponta pro lado oposto, então... ainda tem umas cenas racistas nos filmes dela, então Hollywood continua uma merda.

Ótimo filme! Muito divertido! 10/10.

Quando o Vento Soprar


Uma formato de história que você nunca pode questionar que vai fazer seu público chorar ou ao menos ficar desanimado, é colocar duas pessoas que se amam numa situação horrível enquanto tentam manter seu amor vivo. Shakespeare fez dezenas de peças memoráveis, mas foi logo Romeu e Julieta que todo mundo lembra. Deve ter alguma razão biológica/social pra isso.

Esse é tipo de trama que Quando o Vento Soprar possui, só que ele tem uma leve diferença. Ao invés de representar um casal de jovens, os protagonistas são um casal de idosos conhecidos como Bloogses. Eles não são muito diferentes dos nossos avôs, que nos conhecemos e amamos. Algo que sempre apoio, são histórias com protagonistas idosos, pois é uma fase da vida que não recebe muito destaque. Mesmo quando tem, geralmente o ponto central é que o idoso deve dar mais espaço pra um jovem ter uma vida feliz, dando a sensação que ele só está vivo apenas pra esperar estar a sete palmos do chão futuramente. No final das contas não importa muito em Quando o Vento Soprar, já que os dois idosos morrem no final das contas de qualquer forma.

Quando o Vento Soprar é quase O Túmulo dos Vagalumes, só que com idosos. Os dois tentam mostrar os horrores da guerra focando em civis apenas cuidando das suas vidas e tendo um destino final bem trágico, porque guerras não são muito agradáveis. 

Essa não foi a primeira aparição Bloogses. A primeira aparição deles foi num livro chamado Gentleman Jim, do escritor Raymond Briggs (ele também escreveu Quando o Vento Soprar, obviamente) que morreu no ano passado. A trama é focada no casal buscando uma vida mais animada e percebendo que esses sonhos são um pouco mais complicados de atingir do que esperado. É um livro bem doce e bonitinho, com uma mensagem igualmente fofa. Pessoal gostou do casal e o Raymond pensou que seria legal trazer eles de volta apenas pra matar os dois através de radiação, uma das piores formas possíveis de morrer.

...

Boa, Briggs! Não se tem mais escritores como tu.

Não pensem que o filme é sutil nos efeitos colaterais da radiação. O filme representa vários dos efeitos terríveis, até a perda de cabelo e peso, pele pálida e irritada... isso tudo não é guardado pro final do filme. Não! A segunda metade do filme inteiro é você vendo um casal amável de idosos morrendo bem lentamente esperando em vão por ajuda subestimando o quão ruim é a situação que estão.

Interessante é que toda essa trama foi pro autor reclamar de uma campanha do governo britânico na época, chamada Protect and Survive, que oferecia formas para a população lidar com um possível ataque atômico (cliquem aqui pra ver um livreto do Protect and Survive). O filme inteiro pode ser interpretado como o autor afirmando que essa campanha era um completo lixo. As medidas que os Bloogses usam são reais e eram oferecidas realmente pelo governo da época, e boa parte do filme é comentários apontando trocentas falhas nessas medidas. Pode soar estúpido hoje em dia onde um ataque com bombas atômicas parece muito distante mesmo com o conflito na Ucrânia, mas lá nos anos 80 quando foi feito tanto o livro quanto o filme, a ideia da União Soviética e o EUA matarem todo mundo numa guerra nuclear era levada bem a sério.

As Aventuras de Tom Sowyer (2000)

Não tem trailer então... os três primeiros minutos do filme

Tom Sawyer, só que furry! Wowwwwwwww!!!

Esqueçam o Mune, esse aqui é o filme mais comum nessa lista. Ele é aquele tipo de animação que você provavelmente veria passando no SBT ou na Futura lá nos anos 2000. 

A razão principal de colocar esse filme é basicamente o quanto ele representa aquele as animações entre 1990 e 2004 que tentavam muito copiar o estilo dos filmes da Disney. Inserindo as melodias agradáveis e os visuais brilhantes, em cima de uma conto já existente, as vezes com resultados bem questionáveis. 

Não posso deixar de mencionar o Mark Twain, que foi o escritor do livro que deu origem a esse filme. Meu primeiro contato com o autor foi o livro "Um Assassinato, um Mistério e um Casamento" que era sobre um cara misterioso aparecendo numa vila e todos achavam que ele era algum tipo de lorde ricaço e da alta classe, pra no final ser revelado que ele era um pé-rapado que roubou e assassinou o Júlio Verne, o "pai das obras de ficção científica".

Yeah... Mark Twain também era um escritor interessante.

capa questionável
Uma capa horrível que encontrei enquanto pesquisava

Como todos os livros dele estão em domínio público, tirando o que eu acabei de mencionar (apesar de ter sido escrito a 150 anos só veio a receber uma publicação oficial a 20 anos), você pode muito bem ler Tom Sawyer de graça e legalmente na internet em sites com Project Gutenberg ou Archive.org. Inclusive, é bom lembrar que o filme é focado no livro "As Aventuras de Tom Sawyer", pois Tom Sawyer tem mais dois livros não tão conhecidos. "Tom Sawyer Abroad" (As viagens de Tom Sawyer) e "Tom Sawyer, Detective". Isso sem incluir o livro focado no amigo de Tom, "As Aventuras de Huckleberry Finn".

A trama da animação em geral segue decentemente bem o livro. Tom continua um garoto convencido e manipulativo, ele é um amigo testemunham um assassinato e prometem manter segredo, tem a cena do Tom e Finn vendo os seus túmulos. 75% da trama tá aqui com uns personagens fora, alguns com personalidades alteradas, lugares modificados... talvez a pior parte seja não ter o mesmo humor sacana que os livros do Mark Twain tem, que é meio que o grande charme das obras dele.

Como toda obra que originalmente era protagonizada por humanos, detalhes estranhos existem pela mudança pra animais antropomórficos. Como o frango assado que o Tom e o Finn carregam numa parte do filme, considerando que existe pássaros humanoides na obra, você pensa: "Qual exatamente é a origem desse frango?".

Maior razão pra existir é se você curte os tipos de animações estilo Disney que saiam aos montes até uns 20 anos atrás e por ser uma história do Mark Twain, porque não é a animação mais memorável ou interessante produzida. 

A Princesa e o Goblin


Sabe quantos anos tem o livro que foi usado como base para esse filme? 150 anos. Novamente outro filme que tu pode ver a versão original legalmente e de graça pois está em domínio público. O livro foi escrito pelo George MacDonald, um britânico lá do século 19 que não é tão conhecido, mesmo com muito escritores famosos do século 20, como o Tolkien, mencionando ele como uma das inspirações. Esse cara teve um papel bastante importante pra literatura voltada a fantasia, então já tem recomendações dos livros dele. O nome do livro usado como base para o livro possui o mesmo nome, "A Princesa e o Goblin", e também tem a continuação, "A Princesa e o Curdie", que não envolve goblins. Também podem ser encontrados no Project Gutemberg e Archive.org. 

Infelizmente é preciso apontar o grande mau do livro. Não tem o Turnip. (´.︵.`)\

O filme foi um projeto de três países. Reino Unido, Japão e Hungria. Como muitos projetos envolvendo animação na época e até hoje mesmo, uma obra ser produzida em mais de um local não é incomum, mas abre espaço pra umas estranhezas na animação. Por exemplo, você tem os goblins que são bem cartunistas e por outro o rei que tem uma aparência e expressão mais realistas, isso quando o mesmo personagem não tem a aparência alterada de uma cena para outra, e isso acaba caindo num vale da estranheza. Parece que a obra fica entre um conto de fada bobo e doce ao mesmo tempo algo mais sombrio e com pé na realidade. O cenário de fundo funciona melhor e tem umas ambientações bem charmosas e ajudam bem na atmosfera. Uma parte da animação que acho que merece bastante destaque também foi a animação da água quando o castelo tá sendo inundando, animar água em animação clássica é uma experiência tão horrível e desgastante, que o pessoal merece palmas por terem animado tão bem, principalmente com orçamento baixo.

A obra tem umas diferenças em comparação com o livro, principalmente quanto aos goblins que são mais vilões genéricos e malvados apenas por que a trama precisa de algum, enquanto o livro explica que eles eram humanos que tiveram desavenças com o reino a muito tempo, e optaram por viver no subsolo pra não ter que lidar mais com a família real. Muita gente interpreta isso como "os goblins são as vítimas", mas o livro nunca vai a fundo nessa desavença, não deixando claro as razões das pessoas terem ido ao subsolo e se realmente sofreram abusos injustos da realeza, isso é mais da interpretação de certas pessoas que leram o livro. Mesmo com essa história de origem e certos parágrafos do livro dando uma humanizada a mais nos goblins, eles ainda são obviamente os vilões que querem sequestrar uma garota pra casar com o príncipe deles, e matar um grupo de mineradores e os moradores do castelo com uma inundação. Nisso o filme é bem fiel ao livro.

O ritmo é também em geral mais lento, enquanto o livro se passa no decorrer do que parece ser semanas, o filme é em poucos dias. É uns 8 capítulos pra princesa Irene finalmente encontrar o Curdie, o outro protagonista da história,  enquanto no filme leva 5 minutos.

A animação em geral é bem inocente, o ponto fraco dos vilões é música e pisar nos pés deles, isso é uma forma bem boba de vencer alguém. Os visuais as vezes dão aquela atmosfera sinistra que uma criança poderia achar assustador, e certos momentos como os goblins mencionando em arrancar os dedos da Irene e colocar um saco na cabeça dele, que é uma cena de menos de 30 segundos bem fácil de não ser percebida, são medonhos se pensar bem.

Como no caso de Gentleman Jim, A continuação de A Princesa e o Goblin tem um final bem deprimente, porque sequências trágicas! WOW!!!

Plague  Dogs ou Os Cães Plagueados? 


Primeiro, quem meteu esse plagueados na porra do título brasileiro? Eu genuinamente espero que seja uma loucura da internet e que ninguém tenha olhado pra isso e pensado que seria uma boa ideia.

Ignorando essa tradução terrível, se vocês achavam que Quando o Vento Soprar era o único chute na bolas que os britânicos meteram lá nos anos 80. Kkkkkk!!! Vocês são ingênuos. A primeira cena do filme é um cachorro quase morrendo afogado. Tu já entra com a certeza que vai sair mais deprimido que antes de começar.

O que já era esperado por mim, que como muitos, conheceram o filme vendo alguma cena aleatoriamente por aí. No meu caso foi um homem chamando um cachorro, e o cachorro acidentalmente pisa no gatilho de uma escopeta próxima, matando o homem no processo.

Já mencionei que é o mesmo cara que escreveu Watership Down, o Richard Adams?

Esse filme também é comparado com Túmulo dos Vagamules, porque Túmulo dos Vagalumes é o Dark Souls dos filmes de animação tristes com dois protagonistas sofrendo.

A história é sobre dois cães, Rowf e Snitter, fugindo de uma clínica que realizava testes em animais e o filme vai se desenvolvendo com os dois tentando fugir dos humanos enquanto tentam encontrar um lugar bom e seguro pra poderem morar. A história vai escalando de forma que os humanos vão ficando cada vez mais fervorosos em pegar/matar os dois, e tudo por causa de vários acidentes e interpretação erradas dos eventos, como acreditarem que os dois cachorros tem raiva. 

Para uma trama que é bem focada na tragédia de dois cães que só querem ficar em paz, os humanos até que são tratados com nuance em suas ações, sendo figuras que fazem algo errado mais por não entenderem a situação do que qualquer outra coisa, embora o livro trabalhe melhor nessa área. No livro até mostra que um dos cientistas só queria curar a filha morrendo e achava todos os experimentos na clínica cruéis. Tinha até uma subtrama envolvendo o dono do Snitter ainda estar vivo, que não existe no filme. Não é uma crítica ao filme, um filme não vai conseguir cobrir um livro inteiro em 1 hora e meia e se tem que focar em algo, que seja no Rowf e Snitter.

Plague Dogs acabou sendo interpretado como uma crítica a experiência em laboratório com animais, mesmo não tendo sido intenção do autor. Surpreendente considerando que as torturas realizadas nos animais no filme são baseadas na realidade e os experimentos isolamento são semelhantes aos do Harry Harlow . No final das contas, por acidente, o Adams fez os leitores da obra serem contra testes com animais ou pelo menos refletirem sobre o assunto. 

Uma informação interessante do livro é que no final o Rowf e o Snitter acabam sendo salvos por um homem num barco (pelo menos na versão revisida), enquanto o filme implica que os dois morreram afogados tentando fugir dos humanos. Não é comum a versão cinematográfica ser a mais infeliz, mas Plague Dogs é um caso em que isso acontece (igual a Laranja Mecânica).

Du, Dudu e Edu: Todos contra os Dus



Pode ser esquisito colocar um filme baseado numa série que também é a conclusão da mesma, mas considerando que "Du, Dudu e Edu" tem o charme de séries episódicas, onde cada episódio é uma trama isolada, por que não? Tu honestamente não vai perder nada se for apenas assistir esse filme, ele se sustenta muito bem sozinho. Pode ficar confiante que a série continuará ótima pra assistir. Caso ainda ache errado, assista! Um dos melhores desenhos do Cartoon Network. Vai te ajudar a se relacionar mais com os personagens e até torna algumas cenas no filme mais interessante (as menções ao irmão do Edu na série ficam bem mais reveladoras após assistir esse filme). 

O filme passava no Cartoon Network até com bastante frequência após seu lançamento em 2009, até me lembro de ter vistos propagandas na época e ter ficado todo empolgado pra assistir porque eu amava bastante a série quando criança e até hoje ainda me divirto assistindo. Até estou entre os fãs que acredita que de todos os filmes da CN que mereciam uma versão para o cinema, esse aqui era um dos favoritos.

Principal razão de amar esse filme é como ele explora mais a fundo a relação dos três protagonistas, pelo filme ter um tom mais dramático comparado com o estilo mais comédia dos episódios. É semelhante com o primeiro filme do Bob Esponja trabalhando mais na relação do Patrick com o Bob Esponja. Todos os personagens terem de fazer uma jornada para fora do bairro que sempre foi o palco central da série (a escola nas temporadas 5 e 6(?)) também ajuda a dar aquela sensação que isso aqui é sério.

No filme, Dudu, Edu e Du novamente fracassam ao tentar tirar dinheiro do resto do pessoal do bairro. A diferença é que o plano mirabolante deu mais errado que o normal, com os vizinhos dando muito a entender que vão fazer eles sofrerem bastante, mais do que qualquer punição que os três já tenham recebido. O medo é tão real que os três não demoram muito em pensar em fugir. Como eles não tinham muitas opções só sobra o irmão mais velho do Edu, e com isso os três partem pra jornada com o resto da criançada do bairro logo atrás. Boa parte do filme é a jornada até o irmão do Edu, e o que torna ela é interessante é os personagens interagindo entre si, não só os protagonistas, até os outros personagens como o Kevin, Sarah, Rolf... recebem um pouco mais de desenvolvimento nesse filme.

Mas nada se compara a quando finalmente todo mundo chega pra ver a figura que o irmão do Edu é. Um completo bully, potencialmente um psicopata também. Não teve qualquer dificuldade em torturar o próprio irmão na frente de todas as outras crianças, apenas por entretenimento. A cena é tão cruel que o pessoal no bairro que até alguns minutos tava desejando a morte do Edu, começa a se simpatizar por ele. Até o Kevin se sentiu mal! A porra do Kevin sentiu pena do Edu! 

Essa cena também serve pra concluir o arco que já vinha sendo desenvolvido pelos três protagonistas.

Um comentário que eu li em algum canto mencionava que o arco do Dudu, Du e o Edu nesse filme é semelhante ao dos personagens de O Mágico de Oz. Du consegue o cérebro (espantalho), Dudu a coragem (leão),  e o Edu o coração (homem de lata). É uma boa maneira de simplificar o arco dos três nesse filme, e a cena final tem os três validando isso. Dudu que sempre teve problemas em lidar com o inesperado e o primeiro a se desesperar com qualquer coisa foi o único a peitar o irmão do Edu de frente. Edu confessa a todos a pessoa horrível que é, e como tudo que ele falava é mentira, e pela primeira vez mostra arrependimento pelas suas ações e pede piedade pelo Dudu e Du. Du puxa um pino da porta do trailer que vai parar direto na cara do irmão do Edu, tudo propositadamente.

Essa do Du só era idiota porque "não levava as coisas a sério" não me convenceu, parece desculpa pra o personagem ter algum arco nesse filme. Du nunca pareceu por um instante que ele não era um imbecil, exceto pra certas piadas. É provavelmente a melhor justificativa que poderiam ter dado e o Du tirando o pino da porta ainda é uma das cenas mais satisfatórias da série inteira, então eu dou um passe.

Um detalhe importante a ser mencionado. O filme da uma implicada que o irmão do Edu vai ser estuprado pelas kankers, que são menores, no final. Olha, mesmo pra um cuzão como o irmão do Edu e uma animação como "Du, Dudu e Edu",  isso é um pouco insano demais. É a pior interpretação possível da cena e nada horrível é mostrado, mas...

Esse filme subverte bastante coisa na série. Lida com todos as questões principais da série, os três protagonistas superam seus defeitos, eles finalmente conquistam a amizade do resto do pessoal, um adulto finalmente aparece... é difícil imaginar uma forma melhor de ter encerrado essa série. Esse filme é tão bom que sua existência justifica o quão fraca a série ficou após a quarta temporada, principalmente porque é um final bem melhor que o planejado originalmente, que era o Edu e o resto do pessoal tendo 90 anos, e a série sendo ele apenas relembrando a infância. Ainda não sei o que roteiristas tinham na cabeça quando pensaram nisso.

Uma Noite de Tempestade ou One Stormy Night ou Arashi No Yoru Ni



Mais um filme sobre dois amigos lidando com várias adversidades, e não me arrependo. 

Diferente de vários itens nessa lista, Uma Noite na Tempestade não foi baseado em um livro, mas em sete! Todos eles são livros infantis e curtos, consumindo cada um uns 10/15 minutos do filme. Os únicos livros a receberam algum tradução em inglês foram apenas os dois primeiros, no Brasil é ainda pior, só o primeiro foi traduzido. Dessa forma o filme é a única forma acessível de saber o fim da história (tem uma série, mas ela cobre apenas até o inicio do sexto) porque os último 5 livros tão tudo em japonês.

Desconsiderando que ainda existem mais três livros que quase não são mencionados em lugar nenhum e foram produzidos após o filme, fazendo a maioria do pessoal nem saber da existência deles. Dois deles são prequels sobre a vida dos protagonistas antes de se conhecerem, e o terceiro é um especial produzido pra série animada.

Era pra a princípio só ter um único livro, onde os dois protagonistas se encontram, não descobrem que um era um lobo, chamado Gabu, e o outro uma cabra, chamado Mei. O livro termina com os dois prometendo se encontrar de novo mas antes desse encontro acontecer. Então era pra ter terminado com um final aberto pra interpretação do leitor, "o Gabu vai tentar matar o Mei ou os dois viram amigos?". Só que o livro fez mais sucesso que o autor esperava e ele fez sequências. Na mesma época que ele concluiu o sétimo livro que encerra a série, o filme é lançado.

Mesmo sendo um filme baseado em livros infantis, isso não evita o filme de começar com a morte da mãe do Mei, logo no inicio, pra você já saber que a obra vai ser uma montanha russa de emoções.

Esse filme tem uma reputação interessante sobre ele. Supostamente era pra ser uma trama de amizade, e no geral é vendido como uma. A questão é que muita gente interpreta a relação dos dois como um casal homossexual. Uma das cenas mais icônicas do filme que é o Gabu olhando pra bunda do Mei que é tão... "iluminada" (Difícil descrever as emoções enquanto assistia). A cena deveria representar que o Gabu tá com fome, mas o foco na bunda do Mei é tão zuado que provavelmente seria um meme se o filme fosse popular. É uma coisa que você precisaria assistir pra entender.

A primeira metade do filme, tirando a já mencionada morte, é bem leve, a relação do Mei e do Gabu vai evoluindo enquanto tentam não ser descoberto pelos membros de cada uma de suas tribos. O filme começa a ficar mais dramático e tenso na segunda metade quando descobrem a relação dos dois. Como o Gabu e o Mei se recusam a trair um ao outro, eles fogem e vão buscar um lugar onde possam preservar a amizade em paz, com a matilha do Gabu indo atrás pra matar os dois. Como os sete livros tem tramas isoladas, principalmente os 4 primeiros, o ritmo desse filme não é dos melhores e dá uma sensação de você tá vendo mini tramas tentando muito se conectar uma as outras. Por isso cada cena/evento nesse filme geralmente é longa.

Uma Noite na Tempestade usa animação tradicional, com alguns visuais usando animação em computador (o rio no dia chuvoso, entre outras cenas). O primeiro envelheceu muito bem e torna Uma Noite de Tempestade um dos filmes mais bonitos que já vi, o segundo, não envelheceu muito bem, destoa muita da animação tradicional.

O filme nunca recebeu uma versão oficial no ocidente, tirando a Itália por algum motivo... mas isso não impediu um grupo de dublar o filme para o inglês lá em 2008. Até recebeu permissão da empresa responsável pela localização já que nunca iriam fazer uma versão oficial para o inglês. O mais interessante dessa dublagem é que um único cara fez a voz da maioria dos personagens, inclusive dos protagonistas, então a maioria do tempo você vai ficar ouvindo um cara falar com ele mesmo. 

No caso do Brasil não existe uma dublagem, mas ao menos tem algumas versões legendadas por aí, inclusive de um maluco que decidiu postar o filme sem os 15 minutos finais pra fazer o filme terminar mais triste, porque... Brasil.

Vi muitas comparações com O Cão e a Raposa, pelos dois protagonistas também serem animais de espécies diferentes e em posições socialmente antagônicas na trama. No meu caso, Uma Noite de Tempestade acabou me lembrando mais de Madacasgar (até achei um trabalho acadêmico sobre os livros de Uma Noite de Tempestade que também faz a comparação). Tanto o Gabu quanto o Alex, são animais carnívoros tendo de lidar com a necessidade biológica de comer carne, colocando seu melhor amigo herbívoro em risco. As duas obras até compartilham da ideia de tentar explorar o quão psicologicamente os dois são afetados e pensam em manter distância do amigo por se enxergarem como um risco. A única diferença entre Madagascar e Uma Noite de Tempestade é que o primeiro oferece uma solução no final, que é o Alex comer sushi, enquanto nunca é oferecido uma solução pro Gabu nos sete livros e no próprio filme. Eu até acabei lendo uma fanfic que tenta explorar mais esse ponto, tentando mostrar o Mei e o Gabu lidando com esse assunto, que é até decente considerando a reputação que as fanfics possuem.


Pois é, é isso. Foi interessante falar sobre essas filmes. Talvez no futuro eu faça uma parte 2, porque ainda tem filmes de animação interessante pra serem mencionados.

Não sei como encerrar isso, então... apenas cliquem aqui e vejam um dos melhores vídeos no YouTube.

Obrigado a todos que leram esse artigo.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário