sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Pai do Chicken Little não é um Personagem Horrível


Conceito meio estúpido pra postagem, mas bora lá.


RELEMBRANDO CHICKEN LITTLE 

 

Eu não acho que isso aqui precisa de muita apresentação. É Chicken Little, foi a primeira tentativa dos estúdios Disney em fazer filmes 3D lá em 2005, após uma performance fraca que os filmes 2D vinham tendo nos últimos anos.
 
O moleque, Chicken Little, acreditava que o céu tinha caído, virou piada, tentou a sorte no beisebol que dura uma boa parte do filme e não tem relevância nenhuma pra trama depois, acaba descobrindo a existência de aliens, resolve os problemas com o pai e salva a cidade.

Ah, e a animação e os design dos personagens são horríveis.

O filme foi um considerável fracasso e teve uma recepção bem horrível. Até hoje tem gente taxando ele do pior filme já produzido pelos estúdios Disney (não acho ele nem a pior coisa que a Disney produziu nos anos 2000).

Mas ok, o ponto desse artigo é mencionar o relativo ódio recebido pelo pai do protagonista, Buck Cluck, que aqui foi chamado de Pedro Galo, que honestamente não lembro de nunca terem chamado ele por esse nome no filme.
 
 

O PROBLEMA COM O BUCK 


Tá bom, mas porque odeiam o cara? Essa é fácil de responder. Ele não é um bom pai. Se você lembra do filme, logo no início, o Chicken Little pede pelo apoio dele pra sustentar que o "céu tava caindo". Vamos ser francos, que a história do garoto é retardada. Se prova de certa forma correta no final do filme, mas qualquer um diria que é estúpida. 
 
Problema que o pai dele lida com a situação da pior forma possível, apenas dizendo que galo Chicken se entusiasmou demais e pra todos seguirem com suas vidas.
 
Não é assim que você lida com uma criança, ainda mais com seu próprio filho, principalmente quando isso vai ajudar a torná-lo na piada da cidade.

Boa parte da relação do Buck com o filho é ele dizendo da forma mais passiva possível "não faça nada vergonhoso, por favor". Toda criança quer o apoio dos pais, porque os veem como as pessoas que podem protegê-los e confiar, então mesmo que o Buck não tenha intenções ruins por trás e o filme implique que é mais porque ele não sabe como ser pai, essa atitude dele destrói o garoto. Gerando o resultado que o Chicken Little não confia nele.

Olha, apesar de toda crítica relacionada a Chicken Little, eu genuinamente acho que o filme lida melhor com relação pai e filho que muitos filmes com a mesma premissa por aí. Sério, ele retrata uma relação consideravelmente real e madura de uma relação ruim entre os dois.
 
Sem pai ultra escroto que espanca o garoto, que se enbebeda, que fica na frente da TV o dia todo... 
 
O Buck só não sabe o que fazer, então decide fazer o mínimo, e o Chicken apenas guarda tudo que sente porque não vê sentindo em ter uma conversa.
 
É provavelmente a melhor coisa que o filme faz (provavelmente a única coisa boa também).

Os dois resolvem suas diferenças no terceiro ato e trabalham juntos. Não mostra tanta coisa na evolução do relacionamento dos dois, mas você acredita que será uma relação saudável apartir dali.

Por aqui, eu até não tenho problema. 

Sim, o Buck teve o desenvolvimento, mas foi bem tarde no filme, então é compreensivo que pessoal tenha sido marcado pelo lado horrível do personagem.

Se tivesse uma continuação ou uma série mostrando ele como um pai bom, talvez a reputação do cara fosse boa. Teve um jogo que continua história, mas ele é relacionado a aquela cena final no cimena onde o Chicken Little é um capitão de uma nave espacial, então melhor ignorar.

Mas meu problema não é o pessoal ver ele como um mal pai, mas sim como um mal personagem por causa disso.
 
 

FRUSTRAÇÃO  E O QUE TORNA UM PERSONAGEM RUIM


Não preciso ir longe pra apontar quer um personagem de uma obra cometer atitudes horríveis não o torna num personagem ruim. Hannibal Lecter não é o pior personagem de Silêncio dos Inocentes porque ele é um assassino em série que come (literalmente) suas vítimas, na verdade é o personagem mais icônico da obra. Darth Vader de Star Wars não é um personagem ruim porque ajuda um imperador maligno em uma ditadura pelo universo e por ter matado crianças, na verdade é o personagem mais icônico da obra. AM de I Have no Mouth, and I Must Scream não é um personagem ruim porque é uma IA que exterminou a raça humana e... 

Poderia continuar infinitamente, mas é. Personagem maligno não é igual personagem ruim, meio que todo mundo sabe disso.

Então por que o Buck é extremamente rejeitado mesmo que suas ações nem sejam tão horríveis.

Tenho dois motivos, sendo o segundo bem estúpido. 

Primeiro, as ações do Buck como um pai horrível são bem mais presentes na vida de um possível expectador. É difícil encontrar uma pessoa que lidou com um serial Killer, um agente de um império maligno e uma IA genocida,  mas muitos tem uma experiência complicada com o próprio pai.
 
Raios! Até eu tenho relacionamento conturbado com o meu.
 
Esse tipo de coisa é fácil se identificar e vermos na nossa realidade, então a questão se torna bem pessoal.

O segundo motivo é que a Disney fez um postagem listando ele como um bom pai a uns dois anos e o pessoal ficou puto.
 
Eu disse que era estúpido.

A Disney não vêm tendo uma boa reputação nos últimos anos. Desde sempre ela recebeu a crítica de distorcer a mensagem e a história das obras que usa pra criar narrativas mais paleataveis para o grande público, muita gente até acusa ela de ter sido fundamental pra tornar nossa sociedade mais infantilizada. Critica meio extrema, mas eu entendo parcialmente a ideia.

Mas o desgosto com ela começou a crescer mesmo nos anos 2000/início dos anos 2010 quando ela abandonou animação clássica em pro da animação 3D. Ela sempre foi vista como por muitos como a imagem da animação americana, alguns até mesmo da animação ocidental, sendo o estúdio que todo mundo se inspirava e mostrava a beleza da área de animação. Até o pessoal que odeia o teor das animações geralmente concordava que os animadores e desenhistas da Disney faziam um excelente trabalho. 

Então quando ela abandonou esse estilo, foi basicamente ela dizendo pra boa parte do mundo que esse formato não tinha futuro. Ela não só matou o seu próprio estúdio 2D, ela matou praticamente todo estúdio de animação tradicional por aí, jogando fora boa parte do seu legado e desapontando todos cresceram e gostavam daquele tipo de animação.

Somado isso com as animações fracas lançadas nos últimos anos e essa tentativa de criar uma versão live-action dos seus clássicos, fez muita gente perder fé na Disney, alguns começaram até mesmo a odiar ela pra valer.

Eu mencionei tudo isso pra chegar neste ponto. O ódio ao Buck é mais pra dar um dedo do meio pra Disney que realmente uma crítica direta ao personagem. Muita gente usa mais os erros da Disney mais como pretexto pra acusar a empresa de ser horrível, do que realmente discutir as falhas em suas obras.
 
Mas isso, na minha opinião, ainda não explica todo o problema. Esse ódio a Disney é apenas a ponta do iceberg. Se fosse só isso já teria um grupo grande de pessoas acusando as críticas ao Buck de serem injustas, algo que não acontece muito.

Indo direto ao ponto central é que as pessoas não tão sabendo diferenciar uma obra que retrata uma situação ruim  de uma que apoia uma situação ruim. Deixando o lado pessoal controlar a discussão toda.

A questão é que Chicken Little por justamente não tratar o Buck como um completo monstro, acabou nos olhos de muitos a ideia que o personagem está sendo retratado como correto ou que suas ações não mereciam críticas.

Nuance ou a obra não jogar a mensagem na sua cara da forma mais apelativa e simples possível virou um detalhe bobo, algo que deveria ser evitado pra não gerar discordância.

Isso é trágico, uma das belezas da ficção é retratar o que acontece na vida cotidiano, e quem sabe, talvez sair uma mensagem inteligente no meio. 

Então, quando todas possíveis discussões e ensinamentos que podem ser apreendidos são simplificados a algo como "não seja um mau pai", uma mensagem superficial e vazia que não tem qualquer peso por baixo, está oferecendo tão menos a discussão.

A impressão que dá é que essas pessoas olham pro Buck não como um personagem, mas como uma forma de apenas jogar fora o que estão sentindo, é o que estão sentindo é muita frustração, seja com a Disney, seja com o próprio pai, seja com qualquer outra coisa.
 
Vejo gente mencionando "usando o entretenimento como terapia" com quem faz isso, mas na terapia, o objetivo é encarar e resolver o problema, não apenas dilatar suas frustrações.
 
Não sou capaz de sentir o mesmo porque quando olho pro personagem, eu não consigo odiá-lo, porque tudo que ele faz é consistente com a forma que ele é caracterizado relativamente cedo no filme.
 
Tem várias coisas que marcam um bom personagem. Uma personalidade bem robusta, com todas as suas ações retratando que ele é guiado pela sua personalidade, conhecimento e suas experiências pessoais.     
 
Eu particulamente defendo que o personagem pra ao menos não ser ruim, ele deve ser consistente.     
 
Digamos que o personagem é retratado como gênio, mas suas ações são de um imbecil, e nada na obra justifica essa discrepância.   
 
Um exemplo que eu uso é uma pequena cena em Toy Story 4, que até escrevi um artigo neste blog. No filme ele acredita que tem que proteger o Garfinho já que a Bonnie não tava brincando com ele, Woody então estaria provando que ainda tinha utilidade. Menos de 10 minutos depois, tem uma pequena cena com a Bonnie brincando com ele, o Woody nunca reage ou reconhece que isso foi um fato que aconteceu. O personagem e em certo ponto o roteiro, falharam miseravelmente nesta cena, as ações e as motivações do personagem entraram em questionamento, e não é o bom tipo.  

Buck não sabe como lidar com o Chicken, o filme abre espaço e dá uma implicada que quem realmente lidava com essa parte mais extrovertida e criativa do filho era a mãe, que como não aparece no filme e isso é um filme da Disney, e como todos sabemos, não existem pais divorciados em filmes da Disney, a personagem tá morta. Então a função sobrou pra ele, algo que ele provavelmente achou que jamais teria que fazer.

Toda ação do Buck gira em torno dessa premissa, em nenhum momento ele pareceu ser um cuzão gratuitamente ou de repente se tornou um bom pai aqui e ali. 
 
No meio do filme quando o "céu" cai de novo no Chicken Little, o Buck foi correndo morrendo de preocupação com o filho, após ouvir o garoto berrar. Essa cena funciona porque o problema nunca foi que o Buck não se importa ou odeia o Chicken, mas que ele não sabe se comunicar e apoiar o próprio filho. Ele ainda era um pai e tinha necessidade de proteger, Buck só não é bom nessa área.

O personagem todo é girado em torno dessa ideia. Não é digna de um oscar, mas o filme trabalha decentemente em representar o Buck como esse tipo de figura paterna.


CONCLUINDO 


Eu vou concluir porque não consigo pensar em mais nada a acrescentar. O ponto central deste artigo não foi realmente defender o pai do Chicken Little, eu não me importo com a obra pra isso, e nem sobre relacionamento pai e filho no entretenimento, porque já escrevi um artigo sobre isso também.

Meu ponto é que tá tão fácil pessoal criticar algo pensando que qualquer reação além do completo desgosto é uma forma de querer aceitar ou aprovar uma atitude negativa.

Acabam limitando o que poderia ser retratado. Evitando uma discussão saudável sobre como tentar solucionar ou identificar o que poderia estar errado na vida do próprio telespectador. 

Tem até uma ironia nisso. A mensagem é sobre o chicken e o Buck discutirem o que sentem pra poderem consertar sua relação, e o pessoal decidiu evitar toda a discussão que isso poderia gerar.
 
Algumas pessoas poderiam até usar o que filme tenta ensinar, pra aliviar a situação com o próprio pai, ou até mesmo outra pessoa próxima.   
 
Tudo pra apenas meter "Buck é um pai cuzão".

 

 

O EXTRA DESNECESSÁRIO 

 

Não levem tudo que mencionei acima ao extremo. Não acho nem que alguém com problemas pessoais deveria buscar ajuda primariamente em animações, filmes ou qualquer mídia. Não deixe o mundo do entretenimento controlar você mais do que ele já faz.

Tenho que aproveitar pra mencionar que minha opinião já mudou consideravelmente desde que comecei esse blog lá em 2018, discordo de várias coisas que escrevi aqui, principalmente tudo antes de 2022. Mesmo os de 2022 e em diante eu tenho certos problemas.

Não vou apagar porque acredito no "crescer é relembrar" e sei lá, talvez tenha gente que goste e não quero enfurece-las.

Não pretendo fazer novos artigos sobre os mesmos temas, mas posso acabar mencionando algo em um mais novo que contradiga com algum desses mais antigos. Provavelmente vai ser por mudança de perspectiva (hipocrisia é possível, mas quero acreditar que sou bom).

Vou terminar com um vídeo de um outro filme da Disney também daquela época. Um que eu acho bom dessa vez.
 
Obrigado a todos que leram esse artigo até aqui.
 
Possivelmente a pior lição que você pode receber na vida:

Em inglês porque não achei a cena em português :(

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