sexta-feira, 1 de abril de 2022

Estúdios de games e suas histórias: Lionhead Studios

 



Estou começando uma série no blog em que busco falar sobre estúdios e suas jornadas ao longo dos anos. Não pretendo falar de estúdios extremamente conhecidos como a Santa Monica ou a Naughty Dog porque eu quero que isso seja para os estúdios bacanas que alguns gostavam e se importavam, que o resto da população caga pra sua existência. E obviamente não vou falar das publicadoras porque elas honestamente são sempre conhecidas, todo mundo conhece a Bethesda, EA, 2K, Ubisoft... e acredito que falar em quem realmente produziu o jogo é mais interessante.


Nesse momento começo com o estúdio Lionhead. 


Não tenho uma nostalgia absurda pelos seus jogos, e nem acho que foi um estúdio responsável  pela criação de obras primas perdidas com o tempo, eu só acho que o destino que o estúdio levou foi deprimente, mas isso será explorado mais a frente no artigo.


Agora vocês me perguntam, o que raios a Lionhead teve de especial?


Veja essa imagem e entenda.




Entendeu agora?


Pessoa lendo o artigo: Não.


Maldição! Essa é a franquia mais conhecida deles.


O INICIO


O estúdio Lionhead, é um estúdio britânico, foi fundado em 1997 pelas pessoas Mark Webley, Tim Rance, Steve Jackson e Peter Molyneux (lembrem desse último cara).


O primeiro jogo da empresa só veio a sair 4 anos depois, em 2001, com o jogo Black and White. Era um jogo de estratégia em tempo real, e sua função era bancar um deus e fazer o povo amar você. Mas claro que não era tão simples, tinham outros deuses e você precisava meter porrada neles, do jeito que deuses deveriam ser.


O jogo também tinham um sistema de moralidade entre bem e mal dependendo de suas ações. Os temas não eram complexos e era óbvio a diferença entre ser mau e bom, e a mudança gerada por isso era mais na estética que na jogatina em si.


Mas acabou que era um jogo de estratégia divertido e até conseguiu uma boa quantidade de vendas, e uma boa recepção da crítica para o primeiro jogo de um estúdio.


A partir daí o estúdio produziria três jogos ao mesmo tempo. Um jogo de nave chamado Unity que seria exclusivo do Gamecube, e dois exclusivos para o Xbox. B.C. que seria um jogo de exploração, aventura e sobrevivência se passando na idade da pedra. E Fable, um jogo de RPG com uma grande liberdade de coisas pra se fazer.


Infelizmente por questões de prazo, a Lionhead teve de cancelar o lançamento tanto de Unity quanto B.C., o que eu considero uma pena, principalmente no caso do segundo. Ele realmente parecia um jogo que eu gostaria de jogar.


Mas ao menos Fable foi lançado, mas antes de falar do jogo em si, é preciso falar sobre o assunto mais polêmico da série. Antes de seu lançamento, Peter Molyneux, um dos chefes do estúdio apresentou o jogo como sendo um produto revolucionário, dando liberdades e opções jamais vistas nos videogames até aquele momento.


Vale lembrar que isso era o inicio dos anos 2000. Naquela época o pessoal ficava bastante otimista pensando o quão longe os videogames poderiam chegar, e os mundos incríveis que poderiam ser gerados. Isso antes de todo estúdio fazer mundos abertos medíocres como os da Ubisoft, mas isso é outra história. 


Quando o jogo finalmente lançou e o pessoal foi ver como o jogo era, eles perceberam que apessar de ser um jogo competente, ele não era metade do que Molyneux tinha prometido, ficando revoltados.


Você tinha liberdade pra bater em geral, se tornar o cara mais maligno da fase da Terra, casar, seu personagem envelheci com o avançar do jogo, mas isso no geral influenciava pouco ou quase nada no jogo em si. Ele até tinha o conceito de bem e mal parecido com o de Black and White, mas considerando as promessas e que o gênero RPG é esperado que as suas atitudes influenciem o destino do jogo, ele acabou sendo raso no final das contas. A campanha e os eventos gerais que eram necessários pra concluir o jogo continuavam praticamente os mesmos.


Isso tornou Molyneux uma figura desagradável para muitos, e ele acabou sendo lembrado sempre por essa ação.


No final das contas, Fable foi bem recebido e vendeu bem, agradando a Microsoft.


No próximo ano a Lionhead lançaria a continuação de Black and White, a versão definitiva de Fable, Fable The Lost Chapters, com mais conteúdo e consertando problemas do jogo original e consertando furos na trama, e The Moveis, um jogo que era um simulador de estúdio de cinema onde o jogador podia criar o estúdio que quisesse, controlar estrelas de cinema e até fazer o filme, mesmo que forma limitada.


Infelizmente para o estúdio, tirando Fable TLC, os dois outros jogos venderam mal pra um caralho, surpreendente se for pensar que os dois jogos eram bons, foram bem avaliados, e esse era o tipo de formato de jogo que a Lionhead realmente parecia manjar (estratégia,  simulação).


A situação se tornou tão ruim financeiramente para o estúdio que a empresa acabou sendo comprada pela Microsoft. Se tornando uma subsidiária dela.


A HISTÓRIA NA MICROSOFT 


Em 2006, após a aquisição pela Microsoft, o estúdio teve um novo rumo, que se eu pudesse resumir em uma imagem, seria essa aqui:




Yeah...


A empresa até tentou criar outros IP's no meio tempo em que esteve na Microsoft, o mais popular foi o Project Milo, que inclusive foi o jogo utilizado para apresentar o Kinect.


Lembram do Kinect? Aquele leitor de movimento bosta que geral odiava e a maioria dos jogos eram ruins porque ele interpretava mal pra caralho seus movimentos e nenhum estúdio conseguia fazer algo que preste naquilo? Pois é.


Apesar  que até hoje não existe uma certeza absoluta se Project Milo seria um jogo, pois por um lado tem a Microsoft dizendo que aquilo nunca deveria ter sido algo além de uma demo, e por outro tem o Molyneux dizendo que a Microsoft não colocou fé no jogo e matou o projeto. Observando o histórico dos dois, eu realmente não sei quem tá mentindo ou sendo sincero nessa.


Ela também tentou criar outros jogos como InkQuest e Justice and Survivor, mas todos eles geralmente morriam ainda na fase conceitual.


No final das contas, Lionhead virou um estúdio de uma franquia só, e como já disse anteriormente, RPG é um gênero que acredito não ser o forte dela.


Em 2008, foi lançado Fable 2 e novamente o Molyneux prometeu uma caralhada de coisas que não estavam no jogo. Mas como Fable 1, também teve uma boa recepção no final das contas, sendo até colocado como um dos melhores exclusivos do Xbox 360.


Hoje em dia grande parte dos fãs consideram o jogo um regresso na franquia, pela redução e simplificação de boa parte de seu conteúdo, além da infame batalha contra o chefe final. O público geral nem sequer lembra da série, mas lá no final dos anos 2000 e inicio dos anos 2010, Fable 2 entrava fácil na lista dos jogos "obrigatório pra quem tem o console". Porra, até comparação dele com Fallout 3 teve lá em 2008, e Fallout 3 ainda é lembrado até hoje (de forma bem mais negativa, mas ao menos ainda é lembrado).


Os problemas na franquia começaria mesmo com Fable 3, em 2010. Ainda mais simplificação e redução de conteúdo, decisões duvidosas como o santuário, fizeram o pessoal ter desprezo pelo jogo, mesmo com algumas ideias apreciadas por alguns jogadores como ser rei. 


A partir daí, a franquia teria uns spin-offs como o beat'up Fable Heroes, e a merda do Fable: The Journey que é a droga de um jogo pra o Kinect (deviam ter continuado o Project Milo).


Molyneux abandonou a empresa em 2012. Com a sua saída a Microsoft começou a interferir mais com as decisões criativas do estúdio e direcionou todos os esforços dela para criar jogos competitivos. Sendo a base para o desenvolvimento de Fable Legends.


O ENCERRAMENTO DA LIONHEAD


Como a Lionhead não entendia absolutamente porra nenhuma sobre jogos competitivos, obviamente deu merda no processo de produção de Fable Legends. Após 4 anos conturbados, a Microsoft decidiu encerrar o funcionamento do estúdio, terminando assim sua história em 2016.


Se for pra dizer um motivo de sua queda, provavelmente foi porque tentou fazer mais do que era capaz de fazer. O estúdio nunca foi um AAA capaz de criar obras cinematográficas, como também trabalhava em algo que ela não mostrava fazer um bom trabalho (jogos de decisões gerando consequências e moralidade), quando deveriam ter focado em jogos de estratégia e simuladores. Morrendo quando a Microsoft decidiu forçar eles em algo que entendiam ainda menos.


Essa é a história da empresa, fez jogos bacanas, se fodeu bem rápido tentando fazer muito mais do que tinha capacidade de fazer, metade sua existência se baseou em fazer jogos de uma única franquia, e acabou. Tendo como maior legado a franquia Fable, que recebeu um trailer de um novo jogo em 2020, Fable 4. Esse sendo produzido pelo estúdio Playground Games, o mesmo que desenvolve os jogos da série Forza Horizon. 


Não é a história mais alegre do mundo, ou a empresa mais memorável do mundo. Ela fez jogos bons, mas nenhum é realmente memorável ou único se for pensar a fundo. A coisa mais memorável dela foi um dos chefões ter mentido sobre o quão revolucionário seria um jogo.


CONCLUSÃO 


Essa é a história do Lionhead Studios. A primeira do que espero ser uma nova série no blog.


Acredito que explorar mais a história das produtoras dos jogos pode ser interessante. Ver sua evolução, passado desconhecido, curiosidades...


É como dissem "as vezes a história dos bastidores é mais interessante que a obra em si". E eu acredito nisso.


Obrigado a todos que leram esse artigo. E desejo um bom fim de semana para todos. 


Yeah!!!

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