domingo, 19 de junho de 2022

Gear (1998)

 


As vezes a forma como tu encontra uma obra pode ser completamente inesperada. No caso da primeiro quadrinhos que vou falar nesse blog, foi aleatoriamente no YouTube.


Como muitos sabem, eu gosto de animações, e sempre tento encontrar alguma que possa parecer importante. E ocasionalmente vejo vídeos sobre algum.


Nesse caso específico eu assisto um vídeo falando sobre Catscratch:

Esse desenho.


O desenho não me chamou tanta atenção assim. Parece ser um comédia bacana e isso, mas nada especial.


Em contrapartida, foi mencionado os quadrinhos que deram origem ao desenho que por algum motivo não tem o mesmo nome.


E uma leve descrição da cena inicial. Vocês imaginariam que seria algo semelhante a animação, exceto que você encontra uma cena de um cara ameaçando atirar na cabeça de alguém. Como fã de tramas sombrias e medonhas, com um senso de humor ácido, eu amei e fui logo tentar arranjar uma forma de ler.


E no meio do processo descobri que só eram 6 edições com cada uma tendo umas 30 páginas apenas, o que é meio decepcionante considerando que eu esperava algo mais longo. Principalmente considerando a trama da novela.


Como de costume, o bom e velho aviso de que vai ter spoiler.


GUERRA, TECNOLOGIAS ANTIGAS, CONSPIRAÇÕES E ANIMAIS ANTROPOMÓRFICOS



Antes de falar sobre Gear em si, é melhor falar um pouco do criador, Doug TenNapel, ele é já tem um bom histórico de histórias em quadrinhos, como Ghostopolis e Bad Island, e a coisa mais famosa que criou foi o Earthworm Jim, pra quem não lembra é aquela minhoca astronauta que teve dois jogos no super Nintendo e Mega Drive, e um terceiro 3D que geralmente fica na lista de piores jogos do PS1 porque é uma merda.


As tramas dele são bem cartunescas e geralmente lotadas de humor negro, o que já é um ponto positivo pra mim. 


Até o momento eu só li duas outras obras dele que foram Ratfist e Nnewts, obras mais recentes dele, e o que posso dizer é que mais ou menos tudo que gosto dele ainda ta lá, como tudo que odeio.


Agora sobre Gear. 


Imagine aqueles animais antropomórficos de desenho que você via na infância. E agora imagina os criadores tendo liberdade pra escrever todo tipo de merda insana e errada.


"Como Ren & Stimpy?"


...


Menos errado, menos...


Tem um vilarejo de gatos que vive em meio a um conflito horrendo com uma outra tribo de gatos, com outra de cachorros, e até mesmo uma de insetos (que parecem tudo gafanhotos).


Um dos artefatos bastante utilizados nesse conflito são os guardiões, que são um robôs gigantes de destruição que podem ser controlados por uma pessoa.


A situação da vila é problemática pois eles não apenas possuem apenas um único robô, considerando que todos os outros tem consideravelmente mais, como ele é uma versão antiga quase caindo aos pedaços. Yeah. A situação pra esse pessoal tá uma bosta.


Mas eis que o ancião da vila pede a quatro gatos chamados Waffle, Mr. Black, Simon, and Gordon para roubarem um dos insetos para equilibrar um tiquinho a situação desse grupo. E boa parte da trama vai ser esses quatro tentando pegar um robô.


Outra trama na HQ vai ser um mistério envolvendo os cães e a procura de um templo que esteja contendo o Gear, um artefato de uma civilização antiga que acreditam ser uma forma de evoluir os guardiões e torná-los invencíveis. Esse conflito acaba levando até as origens dos guardiões e até a revelações obscuras e sombrias sobre certos personagens.


Já deu pra perceber que a trama é até bem extensa e complicada, até certo ponto.


E isso provavelmente já leva a provavelmente minha maior crítica a obra. É muita coisa pra ser explicada em tão poucas edições. 6 edições é bem pouco pra o que é uma tentativa de desenvolver uma relação entre povos e vários personagens com vários pontos de vista. Gear merecia ao menos 10 vezes essa quantidade pra realmente explorar tudo que tem.


Tem uma trama na novela sobre o amigo do personagem que é morto logo no início da série, e como ele era o único que restava pra saber onde ficava o templo, e o personagem meio que deixa de ser mencionado ou participar da trama lá na quarta edição. Enganou o pessoal que ameaçou a família dele caso não mostrasse a localização e não fez mais nada na trama.


A trama sobre os cães e o outro povo gatos se aliando não é muito elaborada e tem um desfecho anti climático, com eles fugindo apenas porque perderam um guardião, mesmo com os insetos e a vila dos heróis sem defesa alguma.


Ou simplesmente coisas acontecendo, como o Gear (sim, ele é um personagem), indo de imbecil pra ser racional e normal sem explicação alguma.


Então yeah! Esperem muita coisa simplesmente acontecendo nessa obra, que já é absurda no seu normal.


O humor em geral é ótimo, e provavelmente é a coisa que mais gostei na obra. Tem alguns momentos que achei que o contexto não combinou muito como quando o Waffle, um dos protagonista, se depara com um membro do grupo dos insetos, aparenta que os tiveram uma boa conversa até que no final é revelado que o Waffle não entendeu porra nenhuma. Isso em si não tem nada de errado, o problema é que pra reta final a série dá a entender que o Waffle é esse companheiro inseto se tornaram bons amigos, o que fica bem idiota se lembrar que os dois só se encontraram uma única vez e o primeiro não entendeu merda alguma.


MUITA TINTA


Gear é todo feito em preto branco, igualzinho a os mangas. 


É uma das coisas mais fáceis de perceber é que o Doug tentou dar um tom mais artístico e exagerado pra obra, provavelmente abusando sem dó da tinta. O que funciona até certo ponto.


Eu já vi algumas outras obras do cara, como Ratfist, Ghostopolis e Nnewts, e devo dizer que Gear foi o que mais gostei no sentido de estilo visual. 


Os personagens são bem expressivos, tendo umas expressões geralmente exageradas que ajudam muitas no humor. E o uso exagerado de tinta muitas vezes ajuda na atmosfera dos momentos mais macabros e sombrios na obra.


Provavelmente o maior problema com ela é que não consegui entender porra nenhuma do que tava olhando em vários momentos, me perguntando "o que raios tá acontecendo aqui?" mas do que gostaria. Não porque tava uma poluição visual do caralho, mas porque o contraste entre os elementos na tela não ajudavam a discernir o que era o que, onde começava algo é onde o outro terminava. Não ocorre o tempo todo, no geral são um ou outro quadro a cada algumas páginas em cada edição. Nas duas edições comemorando os 20 anos da obra, lançados em 2018, foram inserido cores, o que resolveu o problema, e até fez um trabalho decente em preservar o tom medonho da arte original no geral.

CONCLUSÃO 


Gear é bizarro, uma convulsão de várias ideias malucas ou interessantes tentando desesperadamente funcionar com resultados dúvidos.


Eu tenho dificuldade de dizer que a obra é boa, embora eu não consigo dizer que odiei também. Me vi até apreciando ela no final das contas, apessar dos pessares.


A melhor comparação que consigo pensar é o uso de LSD (ou um jogo do Kojima). A viagem que tu faz acaba sendo a diversão, e tu só vai esperando ver qual absurdo TenNapel vai pensar e colocar na trama em seguinte, porque o cara realmente não tem medo de tornar uma obra cômica em algo completamente depressivo de um momento pra outro. Em Ratfist, isso é ainda mais óbvio.


Então eu recomendaria? Ehhh... provavelmente. Provavelmente vai agradar quem curte humor politicamente incorreto e coisas estranhas acontecendo, Gear vai conseguir te interessar até o fim.


Agradeço a todos por terem lido esse artigo. Desculpa por ter demorado bastante, tive que me ocupar com outras coisas na minha vida, e espero não demorar tanto para escrever novamente no blog.


Até o próximo artigo.


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